Sem dúvida a depressão pós-parto traz sofrimento para a mulher, o companheiro e os outros membros da família. Porém, não há dúvidas de que quem mais sofre é o bebê.
Além da dificuldade de reconhecimento e validação do quadro de depressão pós-parto, conforme comentado em texto anterior, existe também o medo do tratamento, por várias questões. Há expectativas de que o tratamento psiquiátrico possa deixar a mulher “dopada”, medo de não acordar quando o bebê chorar e de que medicação seja excretada pela amamentação prejudicando o bebê.
Essas dúvidas e temores aparecem num contexto de priorização das necessidades físicas do bebê em detrimento das necessidades emocionais. Hoje já se sabe que a linguagem própria com que a mãe conversa com seu filho, cheia de afeto e até mesmo com entonação característica, tem uma importante função no desenvolvimento da linguagem do bebê e mesmo a linguagem não verbal da mãe tem um papel fundamental na criação do vínculo. A mãe deprimida está desvitalizada, sem energia, com pouca responsividade emocional e pouca disponibilidade afetiva, sente-se mais irritada com o choro do bebê e tem menos capacidade de estar atenta às necessidades dele, por sua própria condição de adoecimen.
O estado depressivo diminui a possibilidade da criação de um vínculo de segurança com o bebê e pode ter consequências imediatas e também futuras. Estudos demonstram que filhos de mães com depressão pós parto que não foram tratadas adequadamente apresentaram ao longo da vida maior nível de dificuldades cognitivas, menores escores de QI, maior incidência de comportamento opositivo e dificuldades para dormir.
Hoje sabe-se que o tratamento adequado, que pode incluir psicoterapia e tratamento psicofarmacológico possibilita que essa mãe readquira sua saúde mental, recobrando sua condição de sentir-se bem consigo própria e conseqüentemente de maternar. Vale a máxima de que para cuidar bem de alguém, precisamos antes, estar bem.