A depressão pós-parto compartilha sintomas com outras depressões, porém, no contexto do puerpério: tristeza a maior parte do tempo, falta de prazer em atividades prazerosas, fadiga, diminuição da concentração, irritabilidade, choro fácil, alterações de sono, apetite e libido, falta de sentido na vida e até ideação suicida. A sobrecarga emocional e física do puerpério pode mascarar tais sintomas: é natural que a mulher não esteja conseguindo avaliar objetivamente se está dormindo bem, pois acorda várias vezes para amamentar ou prestar cuidados ao bebê e está fatigada com o processo. Tem o apetite aumentado devido a amamentação e o cansaço pode trazer irritabilidade e choro fácil. Assim, mulheres e familiares podem não reconhecer um quadro depressivo.Pesa ainda a questão do estereótipo de maternidade perfeita, que leva em conta apenas a beleza e felicidade do momento, porém desconsidera partes importantes do processo, como a sobrecarga, a insegurança de ter uma nova vida em suas mãos, a revivência de sua história como filha em paralelo ao seu desenvolvimento como mãe. Com a idealização do processo, os lutos vividos no processo do puerpério, como a perda da independência, do controle sobre a rotina e do casamento como fora anteriormente podem não ser reconhecidos ou validados pela própria mulher ou pela família, o que dificulta o reconhecimento do sofrimento. Talvez por isso, cerca de 50% dos casos de depressão pós-parto não são diagnosticados ou tratados. Sabe-se que sem tratamento, cerca de 20% das mulheres deprimidas no pós-parto continuam deprimidas após um ano, o que traz consequências para o desenvolvimento da parentalidade, do vínculo com o bebê e com o companheiro.
A depressão pós-parto costuma aparecer no primeiro mês pós parto, mas é possível que ocorra de três a seis meses após o nascimento do bebê e acomete cerca de 15% das mulheres.
A desconstrução dos estereótipos de uma maternidade perfeita e uma visão real do processo que traz sim grandes alegrias e realizações, mas também e desafios e perdas, pode facilitar o processo de validação do sofrimento materno e abrir caminho para a procura de ajuda neste momento de profundas transformações.